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terça-feira, 5 de julho de 2011

Impressões ao dirigir: Kia Picanto 1.0

NÃO SE ENGANE POR SEU PORTE 30 CM MENOR QUE O GOL. O MODELO MUDA TUDO E ATÉ VIRA FLEX

Kia Picanto 1.0
O Picanto mudou tanto que a Kia ainda cogitou mudar seu nome, tamanho foi o nível de alterações. Para começar, a plataforma é a do i10 da irmã Hyundai, que foi esticada em 1,5 cm no entre-eixos e recebeu uns retoques no chassi, alterando a geometria da suspensão dianteira, tornando as molas 12% mais macias e diminuindo o curso dos amortecedores em 2 cm. O mesmo tipo de reajuste foi feito na traseira, para melhorar a estabilidade e o conforto, que estavam longe de ser atributos do Picanto anterior, que até agora já vendeu mais de 1 milhão de unidades em sete anos de existência.

Logo ao primeiro olhar percebe-se que o carrinho quer ser levado mais a sério. O traço redondinho e amistoso deu lugar a uma expressão mais austera, que resulta da conjugação de arestas mais vivas (que o designer Peter Schreyer, ex-Grupo VW, já adotou em outros Kia), do uso da grade comum à família, das caixas de rodas mais salientes e da extensão do largo para-choque dianteiro até bem perto do solo. As lanternas, de formato mais anguloso, reforçam a nova personalidade do Picanto, que cresceu 6 cm em comprimento, além de oferecer um porta-malas maior (200 litros, 25% mais que antes). Apesar do crescimento externo e da inclusão de itens de série, a versão de cinco portas pesa cerca de 10 kg menos, graças a uma quantidade maior de aço de alta resistência.

O novo motor 1.0 de três cilindros deriva do bloco de quatro cilindros da mesma família Kappa - na prática, os engenheiros jogaram um cilindro fora, mantiveram o diâmetro e diminuíram o curso dos demais. Mesmo sendo um motor pequeno, sofisticação não lhe falta: conta com abertura variável das válvulas de admissão e um variador de fase do comando de válvulas, que permite alterar os momentos de admissão e escape, aumentando a eficiência geral e melhorando a resposta em baixa e média rotação.

Claro que, como todos os sistemas de três cilindros, um dos grandes desafios para a engenharia aqui era tentar diminuir e camuflar o ruído de cortador de grama habitual nesse tipo de motor, o que a Kia fez atacando as vibrações de frequência mais incômoda e reforçando o isolamento acústico. A versão a gasolina rende 69 cv e consegue emissões de apenas 95 g/km de CO2 quando equipada com sistema stop-start.

Segundo Joachim Hahn, diretor de desenvolvimento da Kia, a linha Picanto terá também um 1.2 de 85 cv este ano, a que se seguirá uma versão turbo desse 1.0, com 110 cv, montado só no três-portas, até o fim de 2011, criando um tipo de Picanto GTi. Previsto para desembarcar no Brasil a partir de agosto, o 1.0 receberá a tecnologia flex, que foi desenvolvida pelos coreanos com participação da engenharia brasileira - o que inclui testes de campo por aqui. Se aplicássemos a lógica da conversão do Soul ao etanol, o novo 1.0 iria a 74 cv, mas a Kia foi mais longe no Picanto: alcançou 77 cv na gasolina e 80 cv no álcool.

Por dentro, nota-se que o crescimento das dimensões externas reflete-se num habitáculo mais arejado. O painel continua a ser de plásticos duros, normal nesse tipo de carro, mas a apresentação está mais bem cuidada e as folgas entre peças, menores. Uma faixa aluminizada torna o painel mais alegre, criando efeito similar no puxador das portas e no volante.

O CD player oferece entradas de iPod, USB e auxiliar, incomum no segmento. O mesmo se pode dizer de opcionais como ar-condicionado automático, encostos de cabeça dianteiros ativos, sistema de acesso sem chave, bancos de couro, Bluetooth, airbag para o joelho, sensor de ré, assistência de partida em subida, indicador de mudança de marcha e controle de estabilidade (que implica a adoção de discos nas rodas traseiras em vez dos tradicionais tambores).

Claramente o Picanto subiu de nível. Atrás podem sentar três ocupantes - desde que bem magrinhos, porque não há milagres: ele continua a ser um minicompacto, pois com 3,60 metros é 30 cm menor que um VW Gol. Se o passageiro tem mais de 1,75 metro, é melhor sentar na frente, caso contrário vai estragar o penteado de lado e em cima (a cabeça roça no pilar traseiro e no teto). Positivo é o fato de que quase não haverá intromissão do túnel central nos pés do passageiro central traseiro, e também o rebatimento do banco traseiro, em partes assimétricas, que pode criar uma zona de carga totalmente plana.

Uma vez ao volante, percebemos que a posição de dirigir elevada melhora a sensação de segurança num carro urbano, mas ainda falta um pouco de apoio lateral nos bancos. A coluna de direção pode ser ajustada em altura, mas não em profundidade. Dou um toque no botão que liga o motor e acelero, curioso, para perceber até que ponto a maturidade estática foi acompanhada por uma maior competência dinâmica.

Um ponto positivo para o acionamento, suave e silencioso, do câmbio manual de cinco marchas, o que ajuda a manter um ritmo bem esperto no uso urbano. O motor 1.0 a gasolina consegue responder com prontidão a partir das 2 000 rpm. O ideal é conserválo entre 2 000 e 4 000 rpm, porque o torque começa a evaporar-se de forma clara acima dessa faixa - o valor máximo de 9,7 mkgf é alcançado a 3 500 rpm. Este não é o três-cilindros mais ruidoso que já dirigi, mas também não se equipara ao do Nissan Micra, o mais silencioso três-cilindros que já experimentei.

Se no papel já dava para entender que a Kia quis fazer um Hyundai i10 mais confortável, na prática a ideia pôde ser comprovada. Felizes ficarão os motoristas que apreciam um amortecimento de bom nível quando o Picanto roda em asfaltos irregulares. Mas esse conforto paga-se em estabilidade, já que as transferências de peso em movimentos bruscos do volante se traduzem em oscilação de carroceria um pouco mais fortes. Há que relativizar esse traço de caráter, pois não estamos dirigindo um esportivo e sim um pacato míni para andar na cidade. A direção de assistência elétrica cumpre sua função, sem impressionar, sendo ela projetada mais para ajudar nas balizas que para garantir precisão em curvas mais velozes.

Ao fim do test-drive fica a inevitável sensação de que o Picanto é mesmo outro carro. Mais bonito, melhor de dirigir e agora flex. Todos atributos que terão de ser suficientes para fazer o Picanto subir das atuais 1 100 unidades vendidas mensais para 2 200, segundo previsão da marca, o que o tornaria o Kia mais vendido do Brasil, posto que pertence hoje ao sedã Cerato, com 1 900 carros.



VEREDICTO 
Lindo, compacto e gostoso de dirigir... Se ficar mesmo só 1 000 reais mais caro (mas sem perder itens de série), o Picanto será uma compra muito interessante.



FOTOS:
Para-choque traseiro alto restringe o acesso ao porta-malas

O porta-malas é apertado (200 litros), mas pode crescer com os bancos bipartidos rebatidos


Nos bancos da frente não há apertos para dois adultos

Os apliques imitando alumínio no volante e no painel ajudam a disfarçar o aspecto simples do acabamento de plástico duro

Com 3,60 metros, ele aproveita a plataforma do Hyundai i20, que teve o entre-eixos alongado em 1,5 cm







FONTE: Quatro Rodas

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